Passeios de Março

    Aquela lembrança, você e o violão em ritmos inseguros e sem sequência. Vivemos uma verdade só nossa, sem dinheiro e sem cobertores para o frio que fazia antes da chuva começar. Litros e mais litros de água naquela terra de cor laranja, onde marcas de botas de caubóis não eram mais vistas, meu passado deixou de existir.

    Uma corda a menos, um defeito a menos, sincronia entre o tempo e a vida perfeita.

    Podíamos dormir o dia inteiro debaixo do seu lençol no meu quarto, gostava do seu cheiro me enrolando e protegendo da luz do dia. Acordávamos a noite, passeávamos por quintais vizinhos entre palmeiras dançantes ao ritmo suave do vento, o som das folhas agitando-se era nossa música preferida quando a lua estava enorme e o mais amarela possível.

    Adorava acordar quando o domingo amanhecia, checava uma vez mais as suas cartas, infinitas palavras que vibravam em meu coração.

   Sentimentos entorpecentes me traziam dias de felicidade.

   Entre uma chuva e outra, em Março, suas mãos gélidas e tremulas não puderam segurar firme outra vez as minhas, achei suas luvas brancas no jardim, sorri ao vê-las perdidas com a certeza que foi proposital. Não vou esquecer-me do seu sabor, do seu lábio rosado, dos seus cabelos nos olhos que traziam um olhar de mistério.

    Você me fez um garoto feliz.